quarta-feira, novembro 22, 2006

Maduro sorriso


Há dias caminhava fugazmente para a minha segunda casa (leia-se emprego), e que nem um flash de máquina fotográfica, fui atropelada subitamente por um pensamento sobre algo que sempre dei conta, mas que nunca tinha tomado consciência.

Passo a explicar, com um breve preâmbulo.

Quando eu era pequenina, reparava que os "crescidos" eram todos muito sisudos. Especialmente a minha professora da primária, bem... pensado bem, todos os meus professores! Num ano lectivo inteiro via-os sorrir umas 2 vezes. Chegava a ficar impressionada e de olhar estarrecido quando tal acontecia! Já o rir era algo absolutamente impossível.

Ficaremos com Parkinson(*) ou alguma paralisia facial após os 30 anos?
Bem! Comecemos já por pôr de parte a hipótese do problema ser meu, e as pessoas que convivem comigo não terem motivos para rir ou sorrir!

Reparem bem como é raro ver alguém sorrir ou mesmo rir! Bem, se quiserem ser mesmo bem sucedidos na busca, olhem o dia inteiro para o vosso chefe! Especialmente se for uma mulher de meia idade (50’s), divorciada ou que o marido não conheça os milagres do comprimido azul!

No local de trabalho, parece que rir ou sorrir são antónimos de eficiência, de qualidade e de profissionalismo. Com alguma frequência as chefes empoeiradas proíbem-nos de o fazer. Elas não riem, por isso nós também não podemos! Será que puseram tanto botox que perderam o controlo dos músculos da cara? Hum... Vou ver se se babam a comer...

E a estereotipada mulher da repartição de finanças que faz sentir qualquer pós-doutorado como se fosse um iletrado?

Sarcasmos aparte e falando de coisas sérias, e porque não tenho qualquer questão por resolver com chefes ou com funcionárias das repartições de finanças. Ou... talvez esteja a mentir... Porque será que vamos perdendo a vontade ou a capacidade de contrair os nossos músculos faciais e mostrar o nosso sorriso?

No tempo em que estive com a minha avó, vi-a sorrir muito poucas vezes. Será que a idade nos trás as rugas, as artroses, as cataratas, a incontinência e nos leva a alegria?

Para as rugas há cremes, para as artroses fármacos revolucionários, cataratas e incontinência existem soluções cirúrgicas. E para a falta de alegria? Bem, também há fármacos para isso, mas resultam numa alegria de “plástico”.

Parece-me que seja algo que não possamos deixar na mão de terceiros, e talvez seja bom tomarmos decisões ao longo da nossa vida que nos permitam viver mais realizados. Criar sempre novos objectivos e desafios exequíveis, pois são a conquista dos mesmos que nos fazem sentir bem.

Já repararam que todas as nossas etapas da vida, são para preparar as que as procedem à excepção da derradeira? A reforma?

Passo a explicar. A pré-primária prepara-nos para a primária, a primária para o ciclo, o ciclo para o preparatório, o preparatório para o secundário, o secundário para o superior, o superior para o mercado de trabalho. E depois? O trabalho? Não nos prepara para a reforma, não... E a menos que as regras se alterem muito, se nos reformarmos aos 65 e vivermos até aos 80, são 15 anos a aparvalhar?

Por isso é importante indo ao longo da vida criando hobbies que nos preencham o tempo, quando o tivermos a mais! Para que possamos sorrir SEMPRE!


(*) Patologia degenerativa do sistema nervoso em que, entre muitos outros sintomas, os pacientes apresentam perda absoluta da expressão facial.

2 Comments:

Blogger Sofia said...

Concordo plenamente. Devíamos sorrir mais e quem sabe assim o mundo se tornaria num sítio melhor para todos. Um sorriso quebra muitas barreiras.

23 novembro, 2006 16:41  
Anonymous Anónimo said...

Baronesa vermelha, gosto imenso do estilo da tua escrita, da forma madura como te expressas, dos temas pertinentes que abordas. Continua a escrever...não pares e sorri, sorri sempre pois assim muitos sorrisos desabrocham para ti!

19 julho, 2007 21:41  

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