quarta-feira, setembro 03, 2008

Setembro

O Sol esconde-se mais cedo, oferecendo-nos tonalidades de vermelho únicas no ano. Já os dias, vão-se deitando mais apressadamente.

Logo a seguir a Dezembro, Setembro é o mês com mais significado no ano, pela nostalgia que traz, por ser, por si só, um mês nostálgico.

Após 3 meses de calor intenso, dedicados à preguiça, Setembro dissolve-se no calendário com a chuva dos primeiros dias. Era sempre assim, que terminavam as minhas saudosas férias grandes.

São 11 horas. Ainda não abri os olhos, mas à transparência das minhas pálpebras, percebo que está mais escuro. Parece que o dia está a amanhecer, só agora.

Os carros que passam, fazem um barulho diferente. –“tssssshhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh”

Subitamente oiço a chuva a bater com força contra as pedras da calçada, parecendo uma plateia que aplaude, tentando arrancar-me da cama.

Abro os olhos e confirma-se. Está a chover.

A pele descoberta pelos lençóis, sente uma frescura abafada. Levanto-me e vou à janela. Sinto o inconfundível cheiro a terra molhada, acompanhado de um bafo de vapor da água, de quando esta toca no alcatrão quente. Estendo a mão e deixo-a encharcar-se daquele festival de gotículas.

Em simultâneo, recordo os primeiros dias de férias e de como na altura, estes pareciam ser infindáveis. Agora no fim, tentava pôr travões aos minutos que passavam a galope, mas até os catálogos de cores garridas, anunciando o regresso às aulas, me confirmavam a irremediável realidade, de que as férias tinham terminado.

Uma década depois, tudo mudou, à excepção da chuva dos primeiros dias de Setembro.

Hoje a janela já não é da casa perdida na montanha, mas a do meu carro.

Deixo o meu cabelo encher-se de miçangas de água, enquanto inalo o cheiro a terra molhada e me deixo transportar a outros locais, outras recordações.

Viajo pelo arquivo de fotografias, de momentos felizes.