Afogamento
A noite tranquila iluminada por uma translúcida Lua cheia, que se reflecte sobre o mar que ampara o meu barco, tem apenas o frio, como contrariedade.
Esfrego as mãos, tentando afugentar o gelo que lhes penetra e que as impede de sentirem tudo o que seja, além de dor. Parece não ir chover, está tudo tranquilo. Estou confiante de vir a ser uma noite como as outras.
Preparo-me para me enroscar na minha manta de retalhos, quando subitamente, aterra sobre o mar, uma imensa massa rochosa, pesada e de pontas aguçadas, formando-se de imediato grandes braços de água que atentam contra a estabilidade do meu barco.
Uma manta de água espessa cobre-me, fazendo com que todo o meu corpo entre em espasmo e todos os terminais dolorosos gritem.
Afundo-me.
Do colete salva vidas, há muito que não lhe resta nada e eu vou descendo pelo mar. O líquido que me cobre, começa a fazer aumentar a pressão sobre o meu corpo e sinto cada vez mais, uma constrição sobre as costelas.
Estranho como continuo a respirar apesar de me custar, sinto-me a morrer mas não morro.
Olho para cima e vejo que agora o Sol brilha e que o Céu está azul. Vejo a sombra de dois barcos que se aproximam, param e seguem viagem pela mesma rota.
Continuo debaixo da água que me aperta, me constringe os movimentos e me faz sentir cansada.
Olho para o fundo do mar e vejo a rocha que caiu, farpada, cinzenta, sem vida, contudo com força suficiente para alterar o curso da minha viagem.
Esbracejo e aos poucos vou chegando à superfície, contudo não consigo calcular o tempo que vou demorar...
Enquanto o faço, vou reparando em algumas correntes que dão ao meu destino, porém não as agarro e continuo por mim, a subir, a tentar sair deste sitio frio que me estrangula.